Os pensamentos intrusivos costumam surgir em momentos inadequados, especialmente quando nos deparamos com questões profundas sobre nossa própria existência. Ao nos perdermos em reflexões sobre nossa origem e a inevitabilidade da morte, inevitavelmente entramos em uma crise existencial. Surgem tantas perguntas sem respostas: Como chegamos até aqui? Qual é o nosso propósito? As outras pessoas são realmente reais ou meramente frutos da nossa imaginação? E como podemos provar que algo é, de fato, real?
Nossa autoconsciência é, ao mesmo tempo, uma bênção e uma maldição, porque nos permite tentar compreender o incompreensível.
Um dos mistérios mais incompreensíveis é como estamos, para não dizer outra coisa, presos dentro de nossos próprios corpos.
Se seguirmos a linha evolutiva, chegaremos à conclusão de que somos apenas “macacos bem vestidos”, por falta de um termo melhor. O corpo, desconstruído pela mente, rapidamente se torna uma bagunça repugnante de partes estranhas que, de alguma forma, funcionam juntas. Aqui está meu coração, bombeando sangue através das minhas veias; estes são meus pulmões, que fornecem o oxigênio necessário para o meu cérebro, uma massa de células que mal começamos a entender. E esse saco de carne em que vivemos está tão fora de nosso controle. Sim, podemos andar ou falar sob nosso comando, mas respiramos e piscamos sem pensar; somos impotentes contra os ataques dos ciclos corporais, desejos e doenças.
Dessa forma, como nosso corpo não é algo que escolhemos, mas sim herdamos da casualidade da existência, é possível sentir-se desiludido com seu próprio corpo e, principalmente, não ter um bom relacionamento com ele, pois pode carregar grandes problemas, como disforia de gênero, doenças, problemas estéticos, problemas físicos, distúrbios alimentares e tantas outras questões horríveis.
Inclusive, existe todo um gênero de cinema que trata exatamente disso: o corpo é o cenário perfeito para os aspectos mais perturbadores do horror, e é isso que faz do body horror um dos subgêneros mais poderosos e impactantes.
O body horror se concentra nos danos e distorções da forma corpórea e pode variar do nojento ao fantástico. Todos nós já sentimos dor, e é isso que torna o body horror tão assustador — nos identificamos mais com ele. Mas isso é assunto para um outro momento.
Escrevi esse texto porque lembrei de uma conversa que um amigo teve com outra pessoa certa vez, em meio a bebidas alcoólicas. A partir disso, lembrei da música da banda AJJ que trata exatamente essa questão, a “Body Terror Song” que deixarei em anexo junto da letra:
I’m so sorry that you have to have a body
I’m so sorry that you have to have a body, oh yeah
I’m very sorry that you have to have a body[Verse 1]
One that will hurt you and be the subject of so much of your fear
It will betray you
Be used against you
Then it will fail on you, my dear
But before that, you’ll be a doormat
For every vicious narcissist in the world
Oh, how they’ll screw you all up and over
Then feed you silence for dessert[Chorus]
I’m so sorry that you have to have a body
So very sorry that you have to have a body, oh yeah
I’m sorry that you have to have a body[Verse 2]
Filled with infection
One hundred scabs
Singing in unison
Eyes and hands
Sometimes bullets
Uninvited
Passing through us
Uninvited
Passing through us[Outro]
I’m sorry that you have to have a body
I’m so sorry that you have to have a body