Foi mal pelo Vacilo, senhor Albert Camus.

Kruppa
4 min readJun 13, 2022

And your bipolar illness
It comes and it goes
Your parasympathetic nervous system reacts
And you’re in fight or flight mode

AJJ — People II: The Reckoning

Tenho pensado bastante sobre essa coisa de morrer, não a simples morte, quando seus tecidos param de funcionar e seu sistema nervoso começa a colapsar, mas sim a questão da morte no mundo dos pensamentos, o pensar sobre morrer ou almejar a morte como uma saída das coisas.

Segundo Albert Camus em sua obra o Mito de Sísifo, as concepções relacionadas à problemática do absurdo e do suicídio na existência humana. Camus parte deste questionamento que também pode responder a questão fundamental da filosofia: “… Julgar se a vida merece ou não ser vivida…” (CAMUS, 1942, p.13). O filósofo observa que todo conhecimento verdadeiro é impossível e que não conseguimos mais acompanhar as transformações do mundo, porque ele se transforma nele próprio, onde observamos alguns aspectos inumanos nas horas de lucidez em gestos mecânicos.

… muitas pessoas morrem por considerarem que a vida não merece ser vivida. Outros vejo que se fazem paradoxalmente matar pelas ideias ou pelas ilusões que lhes dão uma razão de viver (o que se chama uma razão de viver é ao mesmo tempo uma excelente razão de morrer). (CAMUS, 1942, p.14)

Existir nesse absurdismo que é a vida no geral, seja ela moderna ou o passado sempre trás essa questão, se a vida merece ou não ser vivida, e sempre observamos e julgamos nossas vidas a partir da vida de outras pessoas, o que traz um problema básico de que realmente não sabemos absolutamente nada sobre a vida dos outros, apenas uma ideia conceitual baseada em uma análise rasa, nossa dinâmica de existir e ser funcional como um ser funcional, cumprindo nossas função básica que garanta que possamos nos alimentar ou ter onde morar é absurda, novamente citando Camus:

Os gestos de levantar, bonde, quatro horas de escritório ou de fábrica, refeição, bonde, quatro horas de trabalho, refeição, sono e segunda-feira, terça, quarta e quinta, sexta e sábado no mesmo ritmo… CAMUS. (1942)

Existe uma coisa que também é importante se citar: Para cada um de nós, somos os protagonistas de nossas vidas, enquanto as outras pessoas são personagens secundários, isso pode te dar uma ideia egocêntrica de que tudo é sobre você, você pode se sentir um protagonista de um filme do Woody Allen e achar que todas as mulheres irão te achar especial, ou ter uma ideia Mean Girls que tudo é contra você, quando na verdade você é só mais uma pessoa entre sete bilhões com suas próprias individualidades e protagonismo, e não ter seu protagonismo onde tudo é sobre você e você merece ter o final feliz antes de subir os créditos pode ser bastante frustrante, todo mundo, por mais iluminada que ela seja, quer em algum momento que a vida seja ela e as coisas ocorram como um filme do Wes Anderson.

Mas chegamos ao grande dilema filosófico: Porque as pessoas se matam? E a resposta é simples: Não há uma resposta simples! Pois isso é um emaranhado gigantesco de fatos e acasos que fazem sentido a somente a pessoa que pensa nisso, seja racionalmente ou emocionalmente, é uma decisão dela baseada em uma situação absolutamente intrínseca de fatores e situações.

Um problema em se analisar friamente a ideia de se matar é que, diferente de uma tentativa emocionada onde você usa o que está a sua frente pra tentar extinguir a sua vida, quando se analisa de modo crítico, possivelmente se levantou hipóteses e meios de cometer tal ato, o suicídio não é emocional, é racional, com as ferramentas corretas que garantem que ele seja um sucesso, e isso é assustador, pois você sobrevive todos os dias sabendo que já separou momentos da sua vida pesquisando o que tomar, como dar um nó ou onde se afligir dano para que o objetivo seja concluído de forma satisfatório, a exatidão quase matemática desse ato é assustadora, pois você se questiona se em algum momento essa decisão lógica vai fazer sentido, a possibilidade desse momento é um fantasma que te assombra, aquele pensamento lá no fundo da sua cabeça que em momentos completamente aleatórios suspira a ideia de por um fim em tudo.

Isso é assustador demais.

Desse modo, se você que está lendo esse texto é como este autor que já pensou mais de uma centena de vezes se cometer suicídio é uma resolução viável de se resolver as coisas, é interessante pensar nas palavras de Camus nesse trecho aqui:

a última conclusão do raciocínio absurdo é, na verdade, a rejeição do
suicídio e a manutenção desse confronto desesperado entre a
interrogação humana e o silêncio do mundo. O suicídio significaria o
fim desse confronto, e o raciocínio absurdo considera que ele não
poderia endossá-lo sem negar suas próprias premissas. Tal conclusão,
segundo ele, uma fuga ou liberação. Mas fica claro que ao mesmo
tempo, esse raciocínio admite a vida como único bem necessário
porque permite justamente esse confronto, sem o qual a aposta não
encontraria respaldo. Para dizer que a vida é absurda, a consciência
precisa estar viva. (O Mito de Sísifo, p. 16)

Se vocês ou um conhecido luta com isso, informações e recursos estão disponíveis no site wannatalkaboutit.com/br.

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Written by Kruppa

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