“Os Fantasmas se Entristecem”

Kruppa
4 min readFeb 9, 2023

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But we know you is I
And I get overwhelmed
Can’t sleep at night
Can’t convince myself
To turn it off
To let go

As vezes nos deparamos com alguns filmes que, em um primeiro momento, parecem inofensivos, porém com a passagem dos dias, começa a construir um Triplex em nossa cabeça, e você se pega pensando cada vez mais sobre a obra, e tendo cada vez mais interpretações novas sobre aquilo que foi adquirido durante a sessão de cinema, esse foi o meu caso com “A Ghost Story” de David Lowery.

Talvez pelo motivo de que, quando assisti o filme estava mais introspectivo e deprimido com os infortúnios da vida, o impacto que o filme causou pode ter sido intensificado, porém, mesmo com esse misto de sentimentos que estava no momento, não posso diminuir a obra em si.

Dá pra dizer, resumidamente, que “A Ghost Story” filme profundo e reflexivo que aborda temas como solidão, luto, término, ciclos e tempo de uma forma poética e inovadora. A história gira em torno de ”C” (não temos apresentação de personagens por nome) um homem que falece e se torna um fantasma que volta para sua antiga casa, para assistir à sua amada partir e seguir adiante sem ele, assim como toda a vida no mundo, isso causa aquele sentimento estranho de quando estamos em luto pela partida de alguém, nossa vida foi afetada, interrompida, mas o mundo segue normal, as pessoas continuam acordando cedo para trabalhar, pegando ônibus, comprando cigarros, tendo filhos, saindo a noite para se divertir e buscar sexo, mas para você, tido parou, e isso é absurdo.

A solidão é uma das principais temáticas do filme. O fantasma é mostrado completamente sozinho, sem nenhum tipo de conexão ou presença humana. É uma representação da solidão absoluta, uma vez que o personagem não tem mais ligação com o mundo dos vivos. Ele é uma alma perdida, presa no tempo, e sua solidão é reforçada pela forma como ele é mostrado — com uma lençol branco cobrindo o corpo, o que o faz parecer desumano e distante, em um primeiro momento até parece infantil, porém o aspecto introspectivo da obra dá certa poesia a alma coberta por um pedaço de tecido, observando tudo o que conhecia se esvair por meio de recortes quadrados nos olhos, inclusive, o filme não usa o formato widescreen, ele tem um enquadramento antiquado, que muitas vezes até faz parecer que a câmera usada para gravar o filme é uma das antigas Super8.

O luto é outro tema importante do filme. C é mostrado preso no tempo, estagnado por seu luto, por sua perda e sua incapacidade de seguir adiante. É uma representação do impacto emocional do término de uma relação e de sua vida, e como as pessoas precisam lidar com a dor e o luto para seguir em frente.

O “Fim” é outro tema central em “A Ghost Story”. A partida da amada é catalisador para a “Prisão” de C na casa em que viveu com M, sua ex namorada, onde ele pode apenas observar M seguir adiante.

Os ciclos são outro tema presente no filme. O fantasma é mostrado preso em um loop interminável, como se estivesse preso em um ciclo de solidão e saudade. É uma metáfora para como as pessoas às vezes se sentem presas em ciclos emocionais, sem saber como sair e seguir em frente, o tempo passa, outras pessoas moram naquela casa onde C ainda está preso por não superar seu luto, diversas famílias passam por ali durante a obra, inclusive, em uma das últimas sessões, há um monólogo de um personagem em uma festa, onde o mesmo aborda que todo o desenvolvimento, o sucesso, a evolução, as ideias e filosofia e a ciências que a humanidade desenvolveu nos longos dos anos, isso é ínfimo se comparado com o tamanho das coisas, a humanidade é um cisco perto da imensidão do Universo, e tudo o que temos, tudo que desenvolvemos, amamos, doutrinados há de acabar, seja por nós mesmos ou pelo próprio Universos, podendo até existir outras histórias, a qual seremos completamente esquecidos, no final, nada importa.

Por fim, o Tempo tem papel fundamental na obra, e esse tempo é relativo e pode servir como barreira para as pessoas, tal qual o fantasma, podem viver em loops intermináveis de solidão, saudades, ódio e outros sentimentos, e esses “loops” podem ser quebrados apenas por aqueles que o criaram, seja por superação ou auxílio de conexão humana, em seu tempo preso a seu loop, C apenas pode observar o tempo passar, e tudo o que conhece ser efêmero, dispensável, até mesmo a casa, as cidades, a humanidade, tudo caminha em rumo a mudanças a qual não podemos fazer absolutamente nada, o mundo não se lembrará de vocês, mesmo que você ainda esteja ali, preso em seu próprio ciclo.

O filme tem como sua música tema “I Get Overwhelmed” de autoria de Daniel Hart do projeto britânico Dark Rooms, a seleção de tema é acertada, pois a letra da música carrega os sentimentos já explorados na obra, como solidão, desespero, estagnação e os loops emocionais a qual ficamos presos.

Em resumo, “A Ghost Story” é um filme poderoso e reflexivo que explora questões universais sobre a solidão, o término e o tempo de uma forma única e poética. Ele é uma meditação sobre a natureza humana e como as pessoas lidam com as perdas e a solidão na vida. É um filme que certamente fará com que o espectador pense e reflita sobre questões profundas e significativas.

Nota: 4/5

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Written by Kruppa

Introspectivo e sem Perspectiva nenhuma.

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