Existir, viver seu dia a dia é viver imerso em comparações, como você estivesse em um filme com diversos atores e cada tivesse seu papel definido, com você interagindo a toda narrativa a partir de seu ponto de vista, pois como as coisas acontecem e são interpretadas dependem da sua visão sob o fato, que pode ser positiva ou negativa, mas enquanto você está imerso nesse mar narrativo que é viver em sociedade, você sempre comparar, porque tal personagem tem tudo isso? é um recurso narrativo? Nada dar certo em minha vida é um recurso da obra pra um final feliz ou eu vivo em uma tragédia? ou quem sabe uma coleção de problemas que pode ser até mesmo um filme dos Irmãos Coen ou do Guy Ritchie?
Mas a situação proposta é uma diálogo a partir de uma auto análise cotidiana, pois nós em nossa complexidade de existência sempre reparamos no outro, na vida do outro, e como parece que a sua é mais absurdamente difícil.
Logicamente pensando, não conhecemos a complexidade de cada pessoa, nem seus traumas, então é bem simples olhar e pensar “poxa, a pessoa ganhou um carro dos pais e eu nunca ganhei nada em minha vida”, é inveja? Talvez.
Mas é inegável que a vida dentro das engrenagens do capitalismo é injusta, apesar os traumas certas pessoas TEM a vida mais fácil, tem uma estrutura familiar, tem renda ou oportunidades, boas indicações e um network herdado de pais que faz o indivíduo pular diversas fases, é tipo um Warp Zone de Super Mario na vida profissional que as coloca lá na frente, ganhando 5 digitos de salário aos 25 anos.
E existem pessoas como eu, que nunca teve sorte alguma.

Eu sei que sou saudável, não adianta vir com aquele papo de “pensa nas crianças mudas telepáticas” ou “você não vê o que conquistou”, porra, eu conquistei algumas merdas, mas estou no alto dos meus 36 anos ganhando menos de dois salários mínimos vivendo em uma kitnet, tem gente pior? sim, sempre vai ter, mas eu pelo menos posso me dar o direito de me sentir miserável.
Minha vida foi sempre nesse rolê, quando jovem não conseguia trabalho, meu pai poderia ter me ajudado, mas não o fez, não tinha interesse, talvez uma indicação de trabalho tiraria a oportunidade dele sempre me diminuir ou me fazer sentir uma completa falha, acredito que isso seja prazeroso, após crescer mais um ponto pensei em cursar algo na área de tecnologia, sempre gostei de computadores desde jovem, mesmo não tendo um, mexia com o dos amigos, mas era inseguro por não saber nada de matemática, e não tinha ninguém na minha família que pudesse me aconselhar em relação a isso, fiquei perdido, entrei em letras por simplesmente não saber o que fazer, fui aprovado.
Porém essa experiência me mostrou que eu adoro dar aula! mesmo odiando estudar na UFMS aquele tempo, gostei da profissão, porém devido a problemas da vida não me dediquei o suficiente, mas posteriormente cursei outra licenciatura e sou professor, professor mesmo, com diploma e tudo mais.
Mas não importa se você tem graduação ou não se sua autoestima é tão quebrada que você não consegue montar um networking, não tem indicação, concursos é um inferno a parte, anos e anos de desmanche do funcionalismo gerou provas absurdamente disputadas onde novamente, quem tem tempo para se dedicar apenas ao concurso sai na frente e consegue a aprovação.
Não posso reclamar completamente pois sou empregado, mesmo que seja um concurso público altamente mal remunerado, porém o mesmo garanta que eu coma e pague minhas contas, e apenas isso.
Mas o que eu quero com esse texto? Nada, não vou provar um ponto ou propor uma revolução, eu estou apenas frustrado e cansado de como as coisas são, estou cansado de sofrer muito para obter qualquer vitória pequena em minha vida, por isso, creio que registrar os pensamentos, mesmo que seja em público, pode ajudar.
Estejam bem.
A última conclusão do raciocínio absurdo é, na verdade, a rejeição do suicídio e a manutenção desse confronto desesperado entre a interrogação humana e o silêncio do mundo. O suicídio significaria o fim desse confronto, e o raciocínio absurdo considera que ele não poderia endossá-lo sem negar suas próprias premissas. Tal conclusão, segundo ele, uma fuga ou liberação. Mas fica claro que ao mesmo tempo, esse raciocínio admite a vida como único bem necessário porque permite justamente esse confronto, sem o qual a aposta absurda não encontraria respaldo. Para dizer que a vida é absurda, a consciência precisa estar viva (CAMUS, 1965c, p. 415–416).