Uma analise discursiva de “Modern Love” de David Bowie realizada por alguém que não faz analise do discurso há dez anos.
I know when to go out
Know when to stay in
Get things done

Assim como a introdução de Modern Love, música do compositor inglês David Bowie, muitas vezes me coloco nesse local de fala da pessoa da música, do discurso, como “Ser Confiante”, que sabe das coisas e tem noção plena do que quer, porém, tal como o nosso protagonista, esse local é falso, desesperado, como se ele estivesse tentando se assegurar de que tem tudo sob controle. Porém logo mais temos a realidade, a insegurança, e não só sobre o amor, mas sim sobre tudo.

I’m lying in the rain
But I never wave bye-bye
But I try, I try
Never gonna fall for
Novamente, temos nosso protagonista em sua situação de insegurança, ele pode não estar literalmente deitado na chuva, mas sim, imerso em um sentimento de tristeza, isolamento, helpless, A letra sugere que ela está sofrendo, mas ao mesmo tempo tentando lidar com seus sentimentos.
O trecho “But I never wave bye-bye” pode ser uma referência à ideia de que nosso herói não quer se despedir da esperança ou do amor ou de qualquer sentimento intrinsecamente humano que ele (ou ela) possa sentir, mesmo que seja difícil. A frase “Never gonna fall for” pode significar que não vai cair na tentação de abandonar seus sonhos ou de deixar de lutar pelo amor que deseja, porém esse “never gonna fall for” seja uma condição mais teórica que real, considerando o cinismo das relações sociais.
Claro que, precisamos considerar o personagem, o Bowie em pessoa também dialoga com sua própria história, afinal, o que é nossa produção artística, nosso comportamento e nossos sentimentos senão um reflexo de nossa própria vida e nossos próprios traumas? Bowie nesse momento dialoga com seu problema me relação ao vício com entorpecentes, como dá pra visualizar em diversas outras músicas, mas com destaque para Let’s Dance (1983).
A seguir, Bowie canta sobre como as pessoas se apaixonam apenas para se sentir sozinhas depois, e como o amor pode ser ferido facilmente pela falta de confiança e comunicação. Ele descreve o amor moderno como superficial e baseado em desejos imediatos, ao invés de uma conexão profunda e duradoura.
A letra também fala sobre a sociedade moderna, que valoriza a individualidade e a autossuficiência. Bowie sugere que isso pode tornar difícil encontrar o amor verdadeiro, e que as pessoas se sentem perdidas e desconectadas mesmo quando estão em relacionamentos.
No refrão, Bowie canta: “Eu amo o jeito como você dança, Eu amo o que você faz”, mas também admite que “eu não sei como amar, Eu não sei como amar”. A letra sugere que ele busca por amor, mas não sabe como encontrá-lo ou mantê-lo.
Ainda no refrão:
Never going to fall for
(Modern love) Walks beside me
(Modern love) Walks on by
(Modern love) Gets me to the church on time
(Church on time) Terrifies me
(Church on time) Makes me party
(Church on time) Puts my trust in God and man
(God and man) No confessions
(God and man) No religion
(God and man) Don’t believe in modern love
A ambiguidade do “Amor Moderno” é o núcleo emocional da canção. No contexto da música, Bowie poderia estar falando sobre amor romântico ou “filantropia”, o amor a Deus.
Os temas da música — desejo, solidão, ceticismo, dúvida e encontrar o sagrado no mundano — se aplicam a qualquer tipo de amor, mas o poder da música vem principalmente da justaposição e síntese do amor humano e divino.
Em “puts my trust in God an man” há a questão se sábios ou pessoas sensatas iriam a igreja?
Parece ser assim, mas é descartado nas próximas linhas — pelo menos a parte sobre Deus…
A atitude de Bowie em relação a Deus mudou ao longo dos anos. No início dos anos 70, ele foi influenciado pela filosofia de Friedrich Nietzsche sobre a morte de Deus e cantou sobre “fé falsa”. No entanto, em uma entrevista de 1993, ele disse: “Em um nível pessoal, tenho uma crença inabalável na existência de Deus. Para mim, é inquestionável.”
Nesta linha, ele expressa a crença em Deus, enquanto rejeita o estabelecimento religioso nas linhas seguintes.
O cantor rejeita o dogma e o ritual religioso em favor do amor inclusivo tanto pela humanidade quanto por Deus.
Trinta anos depois, David Bowie foi muito explícito em suas palavras sobre a Igreja (e Deus e o Diabo) em seu álbum e música "The Next Day" de 2013, provocando a ira da Igreja Católica e de muitos outros.
No verso 3 temos:
It’s not really work
It’s just the power to charm
Still standing in the wind
But I never wave bye bye
But I try
I try
Se alguém lê como “não funciona realmente…”, então pode indicar uma cadeia cíclica de eventos, onde um “amor moderno” acabou mal e partiu seu coração, e a subsequente busca por respostas na igreja foi apenas uma decepção — ambos têm “o poder de encantar” — enganando-o — deixando-o, como antes, perdido.
Porém, o refrão termina de modo otimista — ele está (ou estará) tentando — apesar do olhar cínico sobre o amor moderno decepcionante.
Conecta-se bem com a linha anterior — ele não está desistindo e continuará procurando, como detalhado no próximo verso.
Após esse trecho, temos repetição dos refrão anteriores, que já foram, mesmo que de modo amador de alguém que saiu do cursos de letras há mais de dez anos, analisados.
Por fim, a música na integra: